Hoje, dia 30/12, foi publicado pelo Jornal Folha de São Paulo, no painel “Tendências e Debates”, um texto assinado pelos professores da nossa Faculdade de Educação, Sérgio Leite (ALLE), Márcia Malavasi (LOED) e Ângela Soligo (GPEDIS), intitulado “Em defesa do curso de Pedagogia da Unicamp”. O texto segue abaixo para nossa leitura ou releitura!
Em defesa do curso de pedagogia da Unicamp
Os cursos de pedagogia das faculdades de educação da Unicamp e da USP foram neste ano alvos de injustas críticas por parte da cúpula que administra os destinos do ensino público paulista.
O sr. secretário da Educação, economista Paulo Renato Souza, ao defender a política meritocrática proposta pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, tem atribuído grande responsabilidade pelo despreparo dos professores à sua formação na graduação, apontando nominalmente as duas faculdades citadas.
Afirma o sr. secretário: "No lugar de ensinarem didática, as faculdades de educação optam por se dedicar a questões mais teóricas. Acabam se perdendo em debates (...) cujo ideário predominante não passa de um marxismo de segunda ou terceira categoria... A resistência vem de universidades como USP e Unicamp, as maiores do país".
Estranhamente, o sr. secretário da Educação faz parecer que universidades públicas e privadas funcionam a partir dos mesmos princípios e condições, com os mesmos propósitos e a mesma qualidade, o que não corresponde à realidade. Induz também a pensarmos que são as instituições públicas que formam a maioria dos professores do Estado, o que também não corresponde à realidade.
No Estado de São Paulo, infelizmente, as universidades públicas paulistas são responsáveis por apenas 25% das vagas universitárias, contra 75% das privadas. Vale dizer que essa discrepância não parte de uma opção das universidades públicas, mas foi produzida, nos últimos anos, pela própria política de encolhimento do setor público e ampliação do setor privado que ele, quando ministro da Educação, ajudou a implementar.
Também fica óbvio que o atual secretário da Educação desconhece os projetos e currículos dos cursos de pedagogia da Unicamp e da USP. No caso da Unicamp, temos desenvolvido e aprimorado um projeto pedagógico que tem, como princípios, uma sólida formação teórica (já que formamos educadores, e não técnicos), a pesquisa como eixo de formação e a unidade teoria-prática, e o nosso compromisso é com a educação de qualidade para todos. Em nossa última reforma curricular, foi exatamente nas atividades de pesquisa e nos estágios supervisionados que logramos ampliar a carga horária.
Igualmente, equivoca-se o sr. secretário ao confundir autonomia do professor, como intelectual que reflete sobre a própria prática, com ausência de método. Nossa ênfase na formação continuada, a partir dos projetos pedagógicos desenvolvidos nas escolas com foco no trabalho coletivo, reforça essa diferença.
Se pensar criticamente a realidade, conhecer os problemas do país, dos nossos alunos e dos nossos professores como sujeitos concretos é visto pelo sr. secretário como "ideário de um marxismo de segunda ou terceira categoria", o que dizer da assunção de uma proposta que se assenta sobre as profundas desigualdades que marcam o nosso Estado e o nosso país, escamoteando e ocultando suas verdadeiras causas, por meio do discurso falacioso da meritocracia? Não haverá também aí viés ideológico? Ou pretende o sr. secretário fazer crer que a política por ele desenvolvida é neutra, imparcial, desprovida de ideologia? Apenas para ilustrar a relevância do trabalho que realizamos, segundo dados fornecidos pela assessoria de imprensa da Unicamp, a pesquisa dessa universidade mais consultada, em 2009, é da Faculdade de Educação e, para surpresa do sr. secretário, trata de uma questão pungente da sala de aula: o ensino de matemática.
A análise de nossa produção aponta a intensidade do vínculo que estabelecemos com a escola pública -aliás, marca do trabalho de toda a Faculdade de Educação da Unicamp, por meio das atividades de ensino, pesquisa e extensão. Além disso, o sr. secretário desconhece que o curso de pedagogia da Unicamp tem sido reconhecido, nos últimos anos, como um dos melhores do país.
Quanto à forma como encaramos a relação público-privado, salientamos que temos defendido que a educação pública de qualidade é um direito da população, que as condições de trabalho devem ser garantidos a todos os profissionais da área e que as universidades públicas devem ter todas as condições necessárias para a ampliação dos cursos de pedagogia visando à formação de professores. Vale relembrar que a verba pública provém dos muitos impostos que nós, trabalhadores brasileiros, pagamos, com o suor de nosso trabalho.
A educação de qualidade, portanto, é nosso direito e obrigação do Estado.
No mínimo, são lamentáveis os comentários do sr. secretário da Educação, Paulo Renato Souza.
ResponderExcluirO texto assinado pelos professores da FE revela a preocupação constante pela qualidade do curso de Pedagogia na Unicamp e seu verdadeiro impacto social, diante da situação da educação básica neste país.
Faço minhas as palavras da Coordenadora de Licenciaturas da Faculdade de Educação.
ResponderExcluirQueridas colegas Angela e Márcia
Prezado diretor Sérgio
Como uma boa surpresa, li hoje de manhã na Folha de São Paulo o artigo
escrito por vocês "Em defesa do curso de Pedagogia da Unicamp". Estou
escrevendo para cumprimentá-los muito efusivamente pela firmeza e pela
elegância com que teceram argumentos em defesa da Faculdade de Educação,
onde trabalhamos.
São ações dessa natureza que precisam ser intensificadas no nosso
cotidiano da universidade e na relação com a sociedade. Vocês foram muito
felizes nos argumentos apresentados e proferiram uma resposta muito forte
e precisa aos golpes que vem sendo desferidos pelo governo estadual contra
o ensino público, especialmente no último ano.
Um grande abraço
Inês Petrucci
Mensagem postada por Lilian